Mais negros e negras nos programas de estágio e trainee: a médio prazo isso significa mais diversidade na direção das empresas
Aumentou a participação de jovens negros e negras nos programas de estágio e trainee. É o que afirma um levantamento feito pela Cia de Talentos, empresa paulista especializada em processos de seleção e desenvolvimento de jovens para a gestão de empresas. O estudo analisou 60 organizações e concluiu que a contratação de negros e negras para programas de estágios e trainee aumentou 118% no ano de 2020, em comparação com 2019.
Os programas de estágio e trainee são especificamente voltados para alunos do terceiro grau. Dessa forma, é possível associar os resultados do estudo ao avanço da política de cotas raciais para ingresso no ensino superior. Afinal, segundo dados do Censo da Educação Superior, o número de estudantes negros e negras nas universidades brasileiras cresceu 74,6% entre 2014 e 2018. (A política de cotas foi instituída em 2012). Se um número maior de negros está acessando a universidade, mais negras e negros podem se candidatar a oportunidades de estágio e trainee.
Diversidade à Vista
Mas, para além das políticas de cotas, parece que o mundo corporativo também começa a levar a sério a busca por diversidade. Por exemplo: segundo a Cia de Talentos, empresas como Basf, Itaú, e Unilever (entre outras), contrataram 42% de estagiários e trainees negras e negros em 2020. Além disso, outras empresas como o Magazine Luiza e a Bayer criaram programas exclusivamente voltado para negros, como já falamos aqui.
É importante lembrar que os programas de trainee, e mesmo estágios, são estratégias de formação de lideranças nas grandes empresas. Portanto, mais jovens negros nessas posições significa que a médio prazo teremos mais dirigentes negros no mundo corporativo.
Desafios para a Inclusão de Mais Negras e Negros
Para Leizer Pereira, criador da Empodera – consultoria carioca voltada à diversidade em Recursos Humanos – o interesse de empresas por um quadro de colaboradores com mais diversidade racial cresceu nos últimos cinco anos. Após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, em maio do ano passado, a busca pela contratação de negras e negros aumentou ainda mais. Ainda assim, segundo ele, estamos muito longe de superar o racismo no mundo corporativo:
– Tem resistência, medo, polarização… A classe média corporativa é meritocrática, e não considera a desigualdade quando analisa mérito. Muitos acabam encarando programas de fomento à diversidade como assistencialismo – diz ele.
De acordo com Leizer o investimento em um corpo de colaboradores mais diverso retorna para a empresa de várias formas. Além de ser mais fácil identificar e reter os melhores talentos, ter na equipe diferentes perfis favorece a inovação, a conquista de novos mercados e o fortalecimento da marca. O ideal, segundo ele, é que as corporações estabeleçam metas para a contratação de negras e negros, estipulando prazos para alcançar esses objetivos.