Magazine Luiza e o Racismo Reverso

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Magazine Luiza e o Racismo Reverso

Ao lançar um programa de trainee exclusivo para negros a gigante do varejo foi acusada de “racismo reverso” (coisa que, aliás, não existe).

Magazine Luiza e o Racismo Reverso
Magazine Luiza é acusada de discriminação racial por lançar programa de trainee para negros

O “Magazine Luiza” sacudiu a imprensa brasileira quando, em 18 de setembro, abriu inscrições para o seu programa de Trainee, exclusivamente dirigido a pessoas negras . (As inscrições vão até 12 de outubro!) Vale lembrar que os programas de trainees formam as futuras lideranças. Segundo a definição do Sebrae, o principal objetivo de um programa de trainee é “recrutar, desenvolver e reter mentes diferenciadas para assumir posições estratégicas nas empresa em médio prazo”. 

Já na semana de lançamento do programa, o Ministério Público de São Paulo recebeu 11 denúncias acusando a empresa de discriminação racial, mas todas foram todas indeferidas. Em 5 de outubro, no entanto, a Defensoria Pública da União (DPU) entrou com uma ação civil pública contra a rede varejista. A ação, assinada pelo procurador Jovenio Bento Júniro, pede R$10 milhões de indenização por danos morais coletivos, acusando a empresa de discriminação racial contra trabalhadores não negros.


Menos de 24 horas depois do encaminhamento da ação, o site da Defensoria Pública da União publicou uma nota  de esclarecimento. Sem especificar o caso, a DPU informa que “a atuação dos defensores públicos federais se baseia no princípio da independência funcional. Por isso, não depende de prévia análise de mérito ou autorização hierárquica superior”. O texto, portanto, dá a entender que a ação seria fruto de uma iniciativa pessoal. Não correspondendo, necessariamente, à posição institucional do órgão. De modo mais explícito, a Associação Nacional de Defensoras e Defensores Públicos (Anadep) e o Grupo de Trabalho e Políticas Etnorraciais da Defensoria Pública da União divulgaram nota  de repúdio à ação aberta pelo órgão.


Dentro da Legalidade

Para o presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil em Niterói, Ricardo Rodrigues , a ação do Magazine Luiza é legal. Segundo ele o programa de trainee só para negros se enquadra como ação afirmativa. De acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, as ações afirmativas são “programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades” (lei 12.288 de 2010).


_ Existe a ‘discriminação negativa’, que historicamente impede que o povo negro alcance espaços de destaque na sociedade. Obviamente essa discriminação não está escrita em lugar nenhum. Perante a lei negros e brancos são iguais. Mas essa igualdade só existe no texto. Na prática sabemos que negros dificilmente chegarão a postos de comandos em empresas. O que o Magazine Luiza está fazendo é uma ‘discriminação positiva’, uma estratégia para diminuir a diferença que existe negros e brancos na sociedade – diz Rodrigues.

De fato, embora, hoje, não se tenha notícia de um programa de trainee exclusivo para brancos, os dados mostram que dificilmente candidatos negros têm acesso a esse tipo de oportunidade. Não é um caso isolado. De acordo com a pesquisa “Qual Perfil?”, lançada pela Bem TV em 2018, entre as 500 empresas brasileiras com maiores faturamentos, os negros correspondem a apenas 35% dos funcionários efetivos, a 25% dos supervisores, 6% dos cargos de gerência e pouco mais de 4% dos executivos e membros das diretorias. Se consideramos especificamente as mulheres negras, o quadro é ainda mais crítico: segundo pesquisa do Instituo Ethos, também de 2018, elas correspondem a apenas 0,4% dos CEOs do país. Na contramão desses dados 80% das corporações não possuem qualquer política, ou mesmo iniciativas isoladas para ampliar a diversidade racial em seus quadros.

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Atenção às Oportunidades

O programa de trainee lançado pelo “Magalu” não exige experiência prévia, nem domínio de idiomas. Na verdade as únicas exigências são:

– Se autodeclarar preto ou pardo, ter se formado, ou estar se formando entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020 em qualquer curso superior e ter disponibilidade para residir em São Paulo e fazer viagens constantes.

As inscrições se encerram em 12 de outubro (clique aqui ). Os selecionados começam a trabalhar em janeiro de 2021, com salário de R$6,6 mil, benefícios e aulas de inglês. O processo tem duração de 12 meses. São vinte vagas para as seguintes áreas: comercial, e-commerce, financeiro, gestão de pessoas, logística, “luizalabs”, marketing, marketingplace e operações. De toda forma, durante os seis primeiros meses, todos os selecionados passam por todas as áreas da empresa.


Outra empresa que está com oportunidades para negros é a Bayer, multinacional alemã de saúde e agricultura. Podem participar do programa Liderança Negra profissionais graduados ou pós-graduados entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020 em qualquer curso.A duração do programa é de 18 meses e a remuneração é de R$ 6.900, com direito a assistência médica e odontológica, entre outros benefícios.As incrições vão até 21 de outubro (clique aqui ) .


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