Mídias Negra e Indígena

Publicado em#QualPerfilTags: , , , ,

Mídias negra e indígena

Em meio à pandemia, mídias negra e indígena são armas de luta para resistir ao genocídio. A Comunicação como forma de lutar pela vida

Ato Vidas Negras Importam no Rio de Janeiro
Texto: Alex Pena Hercog* / Imagem: Th Lima

“Nem fome, nem tiro, nem Covid: povo negro quer viver”. Esse foi um dos lemas das manifestações “Vidas Negras Importam” no Rio de Janeiro, após o assassinato de João Pedro, de 14 anos. Enquanto isso, diariamente novos vídeos de lideranças indígenas circulam nas redes sociais, denunciando as ações ou omissões das “autoridades brancas”. Além de lidar com um sistema de saúde precário, as aldeias ainda sofrem com as invasões de garimpeiros. Portanto os indígenas estão expostos não apenas ao coronavírus, mas também aos conflitos por terra. Uma situação que chamou a atenção foi a dos Yanomamis na Amazônia. No final de junhos esse grupo étnico afirmou haver mais de 20 mil garimpeiros em suas terras e dois homens yanomamis foram assassinados.

A pandemia da Covid-19 representa, portanto, um triplo desafio para as populações negras e indígenas: a fome, o tiro e o coronavírus têm causado mortes diárias. Mas como vêm fazendo desde o século XVI no Brasil, negros e indígenas seguem se organizando e resistindo com seus próprios meios. Nesse sentido, uma das frentes de luta são justamente a informação e comunicação. Tendo o governo federal e alguns gestores estaduais como obstáculo para acessar dados sobre a situação da pandemia , algumas entidades dos movimentos negro e indígena assumiram o monitoramento dos casos.

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e o Instituto Socioambiental vêm acompanhando e divulgando a situação nos quilombos, como mostrou a matéria da revista QP “A Pandemia não é a Mesma para Todos“. Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil monitora o avanço do coronavírus entre os povos indígenas No Rio de Janeiro, a organização não-governamental Comunidades Catalisadoras está coletando e divulgando os casos ocorridos nas favelas do município.

Mídias Negra e Indígena: Informação e Resistência

Além do monitoramento, diversos grupos também estão produzindo e disseminando conteúdos para dialogar com as populações. Para isso usam faixas, cartazes, vídeos, lives e outros meios. O conteúdo varia desde à mobilização para a prevenção ao coronavírus, até às orientações para conseguir o Auxílio Emergencial. O grande diferencial é o fato das mensagens serem produzidas pelos próprios moradores dos territórios.

Mas além de informar, muitas dessas iniciativas também ajudam economicamente as pessoas mais vulneráveis. Por exemplo: o Movimento Favelas na Luta, que reúne diversos coletivos do Rio de Janeiro, vêm arrecadando doações e distribuindo materiais de higiene e alimentos. Outra iniciativa inaugurada ainda em março foi a a frente #CoronaNasPeriferias. No site oficial encontramos uma lista poderosa de coletivos de comunicação atuantes em diferentes territórios. Enquanto isso, nas regiões Norte e Nordeste, a rede “Existo” reúne comunicadores em torno da produção de uma série de podcasts. Um dos integrantes da rede, Walter Oliveira falou da importância da ação. Natural de Santarém (PA), ele ressaltou as dificuldades de comunicação na região amazônica:

– Tem lugares que só tem rádio. Não pega sinal de telefone. Tem comunidades que têm telecentro, mas quando chove, não dá pra acessar a internet. Então é difícil trabalhar , mas estamos criando mecanismos para que as informações circulem. E sabemos como falar com essas populações. Usamos paródias, porque o povo daqui gosta muito de música!

Todas essas iniciativas, seja na Amazônia, seja nos quilombos ou periferias das grandes cidades, vêm tendo um papel fundamental no combate ao vírus e à fome. Mas como não poderia deixar de ser, também formam uma frente de luta para resistir às balas do Estado. Além disso, as mídias negra e indígena colaboram na organização e cobertura jornalística das manifestações antirracistas. promovendo o debate; e denunciando a violência provocada pelo racismo.

*Alex Hercog é jornalista e membro do Coletivo Intervozes, parceiro da Bem TV numa série de artigos publicados na Revista Qual Perfil.

comentários