Desigualdade Racial custa R$1trilhão ao país

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Desigualdade Racial custa R$1trilhão ao país

Desigualdade Racial custa R$1trilhão ao país
Renda média dos trabalhadores negros é praticamente a metade trabalhadores brancos

Se os profissionais negros fossem remunerados como seus pares no Brasil, quase R$ 1 trilhão seria injetado no mercado nacional. É o que aponta uma pesquisa encomendada pelo Grupo Carrefour ao Instituto Locomotiva, divulgada no fim de abril. Segundo dados do IBGE utilizados no levantamento, a renda média mensal dos trabalhadores negros é de R$ 1.865, enquanto o restante da força de trabalho nacional recebe em média R$ 3.509 por mês.

Não custa nada lembrar aqui que o grupo Carrefour, que demandou a pesquisa, é o mesmo que se envolveu em enorme escândalo em novembro de 2020, quando um homem negro – João Alberto Silveira Freitas – foi morto por um segurança, em uma das lojas do grupo, no interior de São Paulo.

Problema estrutural

Não chega a ser novidade a diferença nos salários de negros e brancos. Mas saber que a desigualdade racial custa R$1 trilhão ao país, pode ajudar a convencer empresários a refletir sobre o porquê do fenômeno.

Existe, é claro, uma questão estrutural. Apenas 11% da população negra concluiu o ensino superior, e 8% nunca foi à escola. Entre os brancos 36% concluíram o terceiro grau e apenas 4% nunca estudou. Entre os negros que foram à escola, 91% frequentou escolas públicas e 89% nunca fez cursos de idiomas. Além disso, apenas 36% teve alguma certificação profissional. Ou seja, na corrida por um lugar no mercado de trabalho, os jovens negros já entram em desvantagem.

Como resultado dessa disparidade, 29% da população negra está inserida nas classes D e E, 52% na classe C, e apenas 19% na classe A. Se compararmos com os brancos, 13% se encontram nas classes D e E, 45% na C, e outros 42% estão entre os mais ricos.

Apenas Brancos no Topo

Ao que parece, o tema da diversidade vem ganhando espaço entre os consumidores. A pesquisa mostra que 85% dos entrevistados não comprariam de marcas que, de alguma forma, não respeitem a diversidade, e 87% preferem marcas que promovam e apoiem iniciativas em prol de uma maior diversidade racial.

Talvez por isso, o tema da diversidade racial ganha cada vez mais espaço dentro das empresas. Mas, entre o interesse e a ação, há uma lacuna a ser preenchida. Várias companhias promovem debates sobre racismo e até fazem campanhas publicitárias exaltando a diversidade, mas seguem com menor número de negros entre seus colaboradores, sobretudo em cargos altos.

De acordo do IBGE, o número de pessoas negras em posições de liderança nas empresas brasileiras é menor do que 30%. Já homens brancos representam 69,3% do topo do nível hierárquico nas companhias. E, de acordo com o Instituto Ethos, a situação piora quando falamos das 500 maiores empresas do país: apenas 4,7% têm negros em cargos de liderança. Mulheres negras correspondem a apenas 0,9% dos cargos de liderança nessas empresas no Brasil. 

Desigualdade custa R$1trilhão

A QP já noticiou aqui que aumentou a participação de jovens negras e negros nos programas de estágio e trainee. Como se sabe, os programas de trainee existem para formar novas lideranças nas empresas. Um levantamento da Cia. de Talentos, empresa paulista de recursos humanos, analisou 60 organizações e concluiu que a contratação de negras e negros em 2020 foi mais do que o dobro em comparação com 2019.

Mas estamos longe do consenso. Quando o Magazine Luiza divulgou seu programa de trainee exclusivo para negros, a cofundadora e presidente do Nubank no Brasil, Cris Junqueira, afirmou no programa “Roda Viva”, em outubro de 2020, que não faria o mesmo para não “nivelar por baixo”. A fala ganhou repercussão nacional.

Para Leizer Pereira, criador da Empodera – consultoria carioca voltada à diversidade em Recursos Humanos – o interesse de empresas por um quadro de colaboradores com mais diversidade racial cresceu nos últimos cinco anos. Após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, em maio do ano passado, a busca pela contratação de negras e negros aumentou ainda mais. Ainda assim, segundo ele, estamos muito longe de superar o racismo no mundo corporativo. A informação de que a Desigualdade Racial custa R$1trilhão ao país pode ajudar a mobilizar o debate.

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