Deu no GIFE
Apenas 13,6% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no grupo das 500 maiores empresas brasileiras (BID e Instituto Ethos/2016). Menos de 5% dos cargos executivos em empresas são ocupados por negros (Guia Temático dos Indicadores Ethos – CEERT para a Promoção de Equidade Racial). Mulheres recebem, em média, o equivalente a 80% do salário dos homens (IBGE/2016). Estes são alguns recortes que mostram um triste cenário: a equidade de gênero e racial no setor produtivo brasileiro ainda é uma realidade distante.
Apesar dos recentes avanços na agenda da inclusão social e econômica, o Brasil ainda carrega o triste rótulo de um dos países mais desiguais do planeta. Os números são escandalosos: apesar de maioria – de acordo com a PNAD 2015 –, negros (53,9%) e mulheres (51,4%) ainda são grupos bastante vulneráveis no mercado de trabalho, como mostram os dados que abrem esta matéria.
E, a continuar nesse ritmo, a situação vai demorar para mudar. De acordo com o estudo Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, do Instituto Ethos, só alcançaremos a equidade de gênero no ambiente de trabalho em 80 anos e a racial em 150.
O Instituto Ethos afirma na publicação que, por mais que o Brasil seja uma das nações mais desenvolvidas economicamente, continua apresentando desigualdades sociais de caráter estrutural, que se refletem no mundo do trabalho. “É necessário, portanto, e urgente, garantir o desenvolvimento econômico com desenvolvimento social. A promoção da diversidade e da equidade são passos decisivos nesse sentido.”
Para Cida Bento, diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), é fundamental reconhecer esta realidade para fortalecermos qualquer processo de mudança. “Temos este problema, que se arrasta há décadas a despeito de nossos avanços em outras áreas e do nosso discurso sobre sustentabilidade. A presença de jovens negras e negros em grandes universidades de todo o país triplicou na última década. Mas a entrada no mercado de trabalho em posições qualificadas não registra aumento. A violência letal contra jovens negros e contra mulheres negras, no entanto, aumentou – vide os Mapas da Violência dos últimos anos”, analisa.
Investir em equidade de gênero e raça, além de ser uma urgência do ponto de vista social, é questão estratégica para as empresas. Pesquisas apontam que ambientes diversos são mais criativos e produtivos. De acordo com o Movimento Mulheres 360, as empresas do futuro, aquelas que investem em equidade, terão mais condições de conquistar novos mercados, melhorar suas relações com governos e órgãos reguladores, além de atingir progressos nos resultados e na performance financeira.
Coalizão Empresarial para a Equidade Racial e de Gênero
Frente a este cenário de injustiça social, surge uma iniciativa que busca contribuir com a reversão da situação, construindo um ambiente de desenvolvimento econômico alinhado aos princípios do desenvolvimento social.
A Coalizão Empresarial para a Equidade Racial e de Gênero é uma proposta do Instituto Ethos, em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e o Institute for Human Rights and Business (IHRB). Conta com o apoio do Movimento Mulher 360, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Fundo Newton – do governo do Reino Unido e pelo Conselho Britânico – e do Carrefour.
Trata-se de um coletivo que se propõe a ser um espaço de debate, de troca de experiências e estímulo à implementação e ao aprimoramento de políticas públicas e práticas empresariais, em um esforço para superar a discriminação de gênero e raça nas organizações.
“É um esforço em trazer efetividade à agenda, oferecendo conteúdos, metodologias, marcos legais, práticas exitosas que auxiliem as empresas a se sentirem seguras para avançar nos processos que ampliem a equidade racial. Ferramentas e processos serão debatidos com vistas a diagnosticar, monitorar e impulsionar a equidade de gênero e raça no interior das empresas, na cadeia de valor, no quadro de pessoal, nos produtos e serviços”, explica Cida Bento.
A diretora do CEERT conta que a proposta é construir e solidificar uma coalizão preparada e engajada no esforço da construção de um país menos injusto, que de fato seja para todos. “Onde equidade, diferença e diversidade sejam um valor que se expressa nas estatísticas sociais e nas condições de vida da população.”
Podem participar empresas nacionais e multinacionais, além de organizações da sociedade civil e poder público. A Coalizão pretende, ainda, reunir especialistas que pensam e pesquisam a questão da diversidade no ambiente de trabalho. A ideia é acelerar a equiparação de gênero e raça no setor corporativo brasileiro.
As empresas que pretendem aderir à Coalizão devem assinar a carta compromisso pela sua presidência ou pela máxima instância administrativa da organização e/ou seu representante legal. É possível baixar a carta compromisso e fazer a inscrição no site do movimento.