Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas

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Dia das Mulheres Negras, Latino-Americanas e Caribenhas

Em 1992, o dia 25 de julho marcou o encerramento do I Encontro de Mulheres Negras, Latino-americanas e Caribenhas, que aconteceu na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana. O evento teve a duração de sete dias e reuniu 300 mulheres, de 32 países da região. 

No mesmo ano, a data obteve o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU) e tornou-se uma comemoração internacional. O encontro deu origem à Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e da Diáspora, que segue ativa até os dias de hoje. É possível acompanhar suas ações através do site: mujeresafro.org/

De acordo com o histórico publicado no site da Rede, o encontro de 1992 teve como motivação a articulação das mulheres negras em torno da luta pela igualdade de raça e gênero nos países da América Latina e Caribe. Mas, além disso, outro objetivo era ampliar o debate sobre o racismo dentro do próprio movimento de mulheres, que vinha se organizando no continente desde o início dos anos oitenta. Naquele momento, o feminismo não delimitava diferenças palpáveis de classe social e raça, focando exclusivamente a questão de gênero.   

Terceira Marcha das Mulheres Negras no Rio de Janeiro – 2017

A década foi inaugurada com a II Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em 1980, em Copenhague. As representantes da América Latina foram as responsáveis por organizar, no ano seguinte, o I Encontro de Feministas Latino Americanas e Caribenhas, em Bogotá, na Colômbia. O II Encontro aconteceu em Lima (Peru); em 1983, e o terceiro em Bertioga (Brasil); em 1985.

Embora o número de participantes se ampliasse continuamente a cada encontro, persistia a pouca diversidade da militância. Por exemplo, no terceiro encontro de feministas latino-americanas e caribenhas, em Bertioga, 76% das participantes eram brancas e 78% tinham ensino superior¹. Esses dados constam do levantamento apresentado pela cientista social Catalina González em sua tese de doutorado, defendida em 2017, pela Universidade de São Paulo².

Aliás, ainda com relação ao terceiro encontro de feministas latino americanas e caribenhas, a questão do racismo literalmente “estacionou” nesse evento. De acordo com um artigo de 2003³, um grupo de mulheres de uma favela do Rio de Janeiro (quase todas negras) chegou em um ônibus pedindo para participar, apesar de não ter condições de pagar a taxa de inscrição. O fato contribuiu para o aprofundamento do debate sobre as interseções entre as exclusões de gênero e raça no âmbito do movimento de mulheres latino-americanas e caribenhas. 

Em 1990, no quinto encontro promovido pelo movimento em San Bernardo, na Argentina, o grupo de feministas negras idealizou seu encontro específico, que aconteceu dois anos depois, e que deu origem à data que hoje marca internacionalmente a celebração da luta das mulheres negras latino americanas e caribenhas.

No Brasil, um Motivo a Mais.

Em 2014, a então presidenta Dilma Rousseff transformou o dia 25 de julho em uma comemoração também nacional. Por meio da lei 12.987/2014 ela instituiu o “Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra”, fazendo homenagem à líder quilombola que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada.

Esposa de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.

A comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho. A população (79 negros e 30 índios) foi morta ou aprisionada.

Muito mais do que uma data festiva, a memória apagada faz com que seja tão importante lembrar, pelo menos, do dia das Mulheres Negras, Latino-americanas e Caribenhas.

Referências

¹Já no ano de 2009, segundo o Censo Escolar do IPEA, apenas 3,7% dos estudantes de universidades brasileiras eram negros. Imagine no ano de 1985? Dessa forma, muito provavelmente, eram brancas as participantes do III Encontro de Feministas Latino-Americanas e Caribenhas que tinham ensino superior.

² ZAMBRANO, Catalina González, Mulheres Negras em Movimento, tese de doutorado, Univesidade de São Paulo, 2017, disponível em www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-20022018-112511/publico/2017_CatalinaGonzalezZambrano_VOrig.pdf

³ ALVAREZ, Sonia E et al . Encontrando os feminismos latino-americanos e caribenhos. Rev. Estud. Fem.,  Florianópolis ,  v. 11, n. 2, p. 541-575,  dezembro de 2003. Disponível em  https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2003000200013&lng=en&nrm=iso


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