Passados mais de 130 anos da Abolição da Escravatura, poucas políticas públicas foram implementadas para garantir a plenitude da vivência do povo mantido escravo por mais de 300 anos. Esse abandono traz mazelas até hoje bem vivas no cotidiano do povo negro no Brasil. Os ciclos econômicos em nosso país sempre preteriram o povo negro do sistema, e as “reformas” propostas intensificam o grau de exclusão desse grupo, já marginalizado.
A Reforma da Previdência desampara mulheres e idosos, rebaixa as aposentadorias de trabalhadoras e trabalhadores pobres, amplia a pobreza e a desassistência a pessoas com deficiência, trabalhadoras/es do campo. Todos obrigados a trabalhar por mais tempo, sem perspectiva de usufruir da aposentadoria.
O povo negro, que se insere primeiro no mercado de trabalho (E muitas vezes no mercado informal, como mostra a pesquisa “A incidência do racismo na empregabilidade da juventude em Niterói e São Gonçalo“), acaba contribuindo por muitos anos e aproveitando menos os direitos ao longo da vida. Em qualidade de vida, negros estão 10 anos atrás de brancos (confira aqui). O longo processo de colonização imposto aos países da América Latina fez com que as sociedades incorporassem padrões de outras culturas e territórios para os seus, legando a modernidade um quadro de intensa discrepância quando pensamos em gênero e raça.
No município de Niterói (RJ), 32,7% dos jovens, entre 15 e 29 anos, está desempregado. Mais que na Síria, em guerra civil. Já em São Gonçalo (município vizinho), 34,7% da juventude não tem emprego. A taxa é maior do que a registrada entre os jovens do Haiti, país mais pobre das Américas. Some a estes dados a recente extinção do Ministério do Trabalho, que deixa de herança para os trabalhadores a insegurança na execução dos direitos adquiridos.
Os negros têm os menores índices de expectativa de vida e são os que mais trabalham sem carteira assinada, nas incertezas do trabalho informal. A reforma nos aproxima ainda mais da velha relação Casa Grande e Senzala. Mulheres e homens pretos serão forçados a trabalhar até a morte. A reforma trabalhista somada à Reforma da Previdência condenam nossa juventude negra, expondo mais uma geração a subempregos, a seu direito ao futuro.
Depois da Reforma Trabalhista, aprovada e sancionada durante o governo Temer (MDB), que permite a precarização do vínculo entre empregador e empregado, a Reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro agrava ainda mais a situação do trabalhador no Brasil. Ao aumentar o tempo de contribuição e modificar as regras da aposentadoria por idade mínima, o governo desconsidera os que sofrerão os maiores impactos das medidas: o povo negro.