Deu na CartaCapital
Ao contrário de Estados Unidos, França e Inglaterra, no Brasil tributa-se mais o consumo do que a renda e o patrimônio. Com tantos impostos em cima de impostos, a população não faz ideia do quanto deixa para o fisco sobre qualquer coisa que venha a comprar.
Por exemplo, segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), para cada 1 real de cachaça são 82 centavos só de imposto. Se for carne, ficam 29 centavos para o governo. Açúcar, 31 centavos. Arroz, feijão ou farinha, 17 centavos.
É um sistema perverso. Como quem tem menos consome tudo que recebe, são os mais pobres que acabam pagando mais em proporção aos ganhos. Já os mais ricos podem poupar e ainda fazer o dinheiro render nos bancos, sobretudo em épocas de juros altos.
Não bastasse isso, a distorção aumenta com a isenção sobre lucros e dividendos, algo que só existe na Estônia e aqui. Foi implantada por FHC em 1995, passando incólume pelos governos Lula e Dilma, o que ajuda a nos manter como mais um paraíso dos milionários.
Estudo do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) vai além, destrinchando essas injustiças fiscais também por raça/cor e gênero.
Participação (%) por decis de renda, por raça/cor e sexo:
Na base da pirâmide, dos 10% mais pobres (onde 68,06% são negros), a carga tributária é de 32%. Nessa faixa, as mulheres negras são o maior grupo contribuinte, 35,59%. Já no topo, dos 10% mais ricos (83,72% são brancos), a carga é de 21%. Nessa faixa, são os homens brancos que predominam, 49%.
Conclusão: no Brasil, a mulher negra e pobre é quem mais paga impostos.
A violência e a corrupção são terríveis, importante que estejam na agenda da hora, mas certamente seríamos uma nação melhor se nossa sociedade que forma opinião repudiasse da mesma maneira a desigualdade, este sim nosso maior desafio. Aliás, não seria leviano dizer que se vê menos violência onde se tem mais oportunidades de subir na vida, assim como menos corrupção quando se tem mais controle social.
Se são tempos de patriotismo, nosso o orgulho de nação entre as dez maiores economias jamais pode ser maior do que nossa vergonha como o 10º país mais desigual do mundo, empatado nas métricas de concentração de renda com o Reino de Essuatíni, pequeno país da África austral.