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Lélia Gonzalez, a mulher que revolucionou o movimento negro

Independente, revolucionária e feminista negra. Antropóloga, filosofa e intelectual, Lélia Gonzalez, se estivesse viva, teria completado 84 anos neste mês de fevereiro.

Nascida em Belo Horizonte (MG), Gonzalez colocou sua intelectualidade a serviço da luta das mulheres no Brasil. De origem pobre, ainda jovem, trabalhou como babá. Graduada em História e Filosofia, lecionou na rede pública de ensino e, posteriormente, já na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), lecionou Antropologia e Cultura Popular Brasileira, chegando a ser diretora do departamento de Sociologia e Política.

Lélia criou o conceito de Amefricanidade, enfocando a questão do negro na diáspora
/Reprodução Brasil de Fato

Pensadora à frente de seu tempo

“Ela foi uma das grandes revolucionárias desse país. Sua crítica evidenciou que as mulheres negras tinham uma posição estratégica, tanto no movimento negro, quanto no feminista”. Diz a arquiteta e urbanista Joice Berth, integrante do Coletivo Imprensa Feminista.

Por meio da psicanálise, do Candomblé e do contato com a cultura brasileira, Lélia assumiu sua condição de mulher negra. Assim sua militância, trouxe reflexões sobre a realidade das mulheres, principalmente negras e indígenas.

“Ela despertou para a questão do espaço físico e urbano, em Lugar de Negro, ela critica o problema racial que está impregnado na superfície da cidade e na formação da periferia” ressalta Berth.

Autora à frente de seu tempo, apontou o racismo e o sexismo na sociedade brasileira, como comenta a jornalista, integrante da Marcha das Mulheres Negras, Juliana Gonçalves. “É uma figura de importância ímpar para toda a sociedade, inclusive para as mulheres brancas. Foi uma das primeiras mulheres negras que conseguiu ter voz e vez em seminários e encontros internacionais de mulheres aqui na América Latina”.

Lélia participou do Instituto de Pesquisa das culturas negras (IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras. Sua produção intelectual também é vasta. Autora de obras como Festas populares no Brasil, premiado na feira de Frankfurt, e da já mencionada Lugar de negro, feita em parceria com Carlos Hasenbalg. “O nível de elaboração da Lélia era muito refinado, ao mesmo tempo em que era fácil compreender o que ela estava falando”, observa Gonçalves.

Com base em seus estudos, deu origem ao conceito de Amefricanidade, enfocando a questão do negro da diáspora. “Ela bebeu muito dos EUA, mas nunca perdeu o vínculo do que é ser mulher negra, brasileira, da América Latina”, completa Gonçalves.

Muito além da academia

Panfleto da campanha de Lélia para deputada federal, em 1986

Para além da academia, Lélia também teve importante atuação política. Nos anos 1980, foi indicada para o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e, em duas ocasiões —em 1982 e 1986 —foi candidata a deputada federal, conquistando a suplência em ambas as oportunidades.

Faleceu aos 59 anos, no Rio de Janeiro, em 10 de Julho de 1994, vítima de problemas cardiorrespiratórios. Lélia Gonzalez é considerada um dos grandes nomes do movimento negro contemporâneo.

Fonte/ Letícia Fialho, do Brasil de Fato

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